domingo, 26 de dezembro de 2010

Sobre a Ausência

 Em meio a dias atordoantes, existências atormentadas e dinâmica vital flúida, eis que le manifeste vislumbra algum espaço para a continuidade de sua indignação virtual para com o semblante mundial. O ludens nem sempre pode ser ouvido, infeliz!

Após pensar um pouco, nada parece mais presente do que a própria ausência.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Trilha sonora do Cavanhaque's Bar

ou: Migrações macro'tribais'.

Não é de hoje, leitor descompromissado, que o Bar Cavanhaque, localizado no bairro da Várzea (Recife, Pernambuco) nas adjacências da Universidade Federal de Pernambuco, tem se tornado o mais novo reduto dos estudantes e estudantas das mais diversas redondezas acadêmicas. Futuras engenheiras, futuros administradores, futuro jovem que almeja ser aprovado no concurso, não importando, é claro, qual seja. Futuras cientistas biológicas, enfermeiras. Eles são de lá, oriundos dos longínquos Centro de Tecnologia e Geociências, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Centro de Ciências da Saúde. E em pensar que até bem pouco tempo atrás, apenas os anthropocêntricus frequentavam aquele que era um velho cafofo.

Embora teoricamente seja proibido que os filhos desses grupos sociais abram as portas trazeiras de seus automóveis, melhor, do de seus pais, exibindo seus equipamentos tunados e suas músicas de bom gosto, a norma parece não ser respeitada. E que alguns ficam bem incomodados.

Fato é que a preferência musical dos jovens de além campus não é das melhores. Pouparei todos vocês da minha escrita verborrágica, quando esta nada, no fundo, quer dizer. Enquanto isso, vós assistam ao vídeo que prima por verossimilhança.

Comédia MTV

Assim, fica impossível manifestar.
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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sagrado Coração


Por Renato Ribalta

            Com um texto na minha prancheta, vou indo para a universidade dentro do coletivo que balança mais do que a nau de Odisseu sobre o mar furioso de Poseidon. Minhas vagas são os buracos da BR-101. Aconselham-me sempre para parar de ler no ônibus, pois, eu posso ter um deslocamento de visão, creio que esse fato acontecerá no dia em que eu parar de ler.
            Antes de chegar à BR embarcam nesse navio negreiro urbano uma senhora com um menino de aproximadamente uns oito anos de idade. Este está com o uniforme da escola, cujo nome é o titulo dessa crônica, ele vem e senta ao meu lado e a senhora diametralmente oposta a ele, corredor com corredor como dois argonautas a remar ao sabor da vida e do vento Euro (leste).
 O menino retira a atenção que tinha no texto, está inquieto e sorrindo, começa a tocar em mim como se quisesse mostrar algo, a senhora chama a atenção dele e me diz que é seu neto e é surdo e mudo, fala que foi buscar ele na escola e que também é professora junto com o pai e estão lhe ensinando LIBRAS, e que ele também está tendo aulas na escola dessa língua de Virgílios. Pergunto qual o nome dele, ela me diz que é Gabriel. Me fez lembrar a passagem do livro de Lucas (1:19): Eu sou Gabriel, o que está na presença de Deus.” E a sua avô lembrou-me o personagem Virgílio na Divina Comédia, de Dante Alighieri, o sagrado e o profano em três linhas dessa crônica, porém a vida é assim mesmo sem estilos textuais nem tampouco diagramações.
Gabriel como um Dante/Arcanjo com sua espada em riste tentando dissipar de sua vida as trevas do silêncio e acompanhado do seu Virgílio consangüíneo, guiando-o diante desse vale sem referente e referencial oral, me mostra o seu notebook do Speed Racer, como quem quer se comunicar a todo custo. O equipamento está desligado. Nós apertamos algumas teclas, mas zero a zero, nada do troço pegar. Creio o que me atraiu a ele não foi a complacência, mas sim o fato dele ser a minha antítese, pois, como diziam antigamente, eu falo mais do que o homem da cobra.

O coletivo estava se aproximando do terminal integrado, a viagem (SEI) teria o seu fim para nós, eu iria para a universidade acumular mais sinônimos, objetos diretos e indiretos, pronomes... E Gabriel continuaria a sua viagem com sua espada reluzente diante da opacidade do mundo sem símbolos, como no trecho daquela canção do álbum: uma outra estação da Legião Urbana, que ironicamente Renato Russo não viveu o suficiente para imortalizá-la com a sua voz, e que mais ironicamente se chama Sagrado Coração:

“Por isso lhe peço por favor 
Pense em mim, ore por mim
E me diga:  
– Este lugar distante está dentro de você
E me diga que nossa vida é luz
Diga que nossa vida é luz
Me fale do sagrado coração
Porque eu preciso de ajuda”

Dedicado aos Virgílios que velam as vidas dos Dantes.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mais e mais (...)

Nas obscuras entrelinhas do rebuscado linguajar repousa o mais puro esvaziamento de sentido. A mediocridade está disfarçada numa mera aparência poética, sensível, pequeno-burguesa. Hedonista. Para tudo, há sempre um nada. Para tudo, um mais do mesmo.

Contra o pedantismo quotidiano, eis aqui o meu vazio de protesto.


O marasmo assusta

(ou, o discurso sobre o tempo tedioso)

Eis que tempos de paz e bem pareciam rogar-lhe praga. Com um leve pesar, após micro-turbulências da vida trivial e anedótica de um mero mortal, a ressaca vital estava de volta para sua nova sessão de consumo, de devorações de si mesma. Em pouco tempo, não haverá mais nada... apenas questões ínfimas que serão  novamente negadas e reforçadas às amarras da irrelevância. Agora, haverá apenas a confortante desconfiança de sua própria paz. Um espetáculo de cumplicidade e cinismo. Descabidos. Deslavados. Seguindo os argumentos de um certo observador-participante que, com base numa análise da dinâmica dos fluídos e fluxos da vida contemporânea, julga minguantes as chances dos processos  físico-químicos de solidificação se efectivarem, tem-se a priori que aqui jaz a certeza inabalável da irrefreável condição do retorno. Algures, no entanto, apenas o desejo permanecia.

Eis a ressaca. Moral, epistêmica, sobretudo, vitalícia. A ressaca é o elemento principal que compõe as condições materiais que possibilitam o marasmo, a pacífica existência que às vezes parece aspirar à perenidade. Não quer, por sua vez, compromisso.

A contradição inerente ao caráter fantasmagórico do marasmo reside na crença de que ele se coloca sempre no interlúdio entre o que ora aflingiu e o que doravante releva-se como iminência. Igênua quimera pensar que o marasmo é o fim. É, pensa o observador-participante, apenas o elemento recorrente do ciclo cuja dinâmica se esconde. E há, certamente, quem se assuste com essa constatação. Todavia, antes de conceber o marasmo como estagnante, ele apresenta seu caráter dual: é, ao mesmo tempo, o que parece eternizar-se pois se finca numa sensação de perenidade do tempo; e, é passageira, como tudo nessa vida. O interlúdio, o momento da reorganização, da contemplação, da ressignificação. O instante da vida em que o interior fala, aponta, requer. O início do fim do tédio.

(...)
Ah, campos verdejantes que me fazem pensar na beleza esplendorosa para os quais este Sol vem todos os dias iluminar. O marasmo é como este belo Sol que insiste diariamente em surgir e seguir. Embora, de modo diverso, o cíclo marástico não nos traga tanta simetria. Que não dura os mesmos dias. E que não termina nas mesmas noites.

Causas-me inquietação profunda, porém breve.
Sei que logo cessarás.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Recife



Por Rosano Freire

Recife é uma cidade peculiar. Explico: localiza-se em local de estuário, convergência entre rio e mar, fertilidade propícia aos peixes, às plantas e aos sonhos. Suas ruas, tão delicadas, pedem poesia. Rua Nova, Rua da Aurora, Rua da Soledade, Rua das Ninfas, Rua da Imperatriz, Rua da Palma, Rua do Apolo, Rua de Alegria. Só alguns exemplos escassos.

E quem anda pra lá e cá, desde cedo, aprende a gostar de seu desnível e de suas pontes. Recifense que é recifense, provinciano que é, não pode estar fora da cidade, por simplórios dois dias, que já se põe a cantar "ai ai, saudade, saudade tão grande...", trechinho épico da música Frevo nº 2 do Recife, composição do boêmio miúdo Antônio Maria. Por mais estranho que isso possa ser, até do cheiro de bosta e mijo dos becos recifenses a gente consegue gostar, apreendendo-o como odor singular e único.

Em fim de tarde, então, só o barulho das buzinas para segurar as lágrimas. Ver o sol se por entre lirismo e correria não é fácil. A avenida Conde da Boa Vista, às vezes, parece ter sido inundada por toda a população do planeta. Tante gente, mal se vê o escuro do piche que cobre o chão. E você se pega imaginando quantos desejos não escondem aquelas caras sempre sérias.

Mas a minha Veneza, hoje, vive sob um ‘Pacto Pela Vida’. Sim, concordo, realmente precário o caso de uma cidade que precisa fazer um trato em prol da vida. O Recife anda triste, cabisbaixo. Os olhos de quem perambula pelas ruas já não procuram ternura, mas se protegem do perigo. Os passos, sempre apressados, já não buscam felicidade, mas fogem da tristeza. As expressões já não demonstram gentileza, mas exalam desconfiança. O Recife parece ter sido vencido pela violência.

Essa semana completaram-se oito meses da morte do garoto Alcides. E ninguém mais fala nisso. Os recifenses parecem estar inertes, vivendo pelo simples fato de viver. Vivem esquanto lhe deixarem viver, perplexos e letárgicos com a força da violência. E eu me ponho a perguntar, quantos Alcides, Paulos, Joãos, Josés o Recife vai ver sucumbir? Quantos filhos seus o Recife deixará falecer, quandos sonhos deixará enterrar, quantas mães ainda consolará?

Hoje, afundado no ínfimo do Capibaribe, está o que há de mais robusto do lixo e da alegria dessa cidade.

O Recife deságua medo e insegurança no oceano atlântico.

E eu, com o perdão da saída brusca, encerro aqui esta pobre croniqueta.

Acabaram de me roubar as palavras.

domingo, 3 de outubro de 2010

Na próxima esquina.


Ele olhou o caminho. E pensou. Mas não o fez duas vezes. Fechou os olhos, abriu os braços, e foi, mais decidido que um suicida. Para onde, nem ele sabe ao certo. Isso, talvez, nem seja o mais importante. O que importa é que ele foi. Foi com sede. Com vontade de não sei o quê. Sim, isso mesmo, vontade de não sei o quê. Nem tudo nessa vida carece de ser explicado. Pra quê porque?
 
O caminho torto, bifurcações embaralhadas. Logo ele perdeu o norte (se é que ele já o teve alguma vez). A vida chacoalhada, ele parecia estar planando no ar. Só com alguma sorte conseguia dar dois passos sem tropeçar. Mais derrotas do que vitórias, mais choros do que risos. As retinas cansadas, as mãos e os pé cortados, só a vontade permanecia inabalável.

Mesmo depois de todos os baques, ele não se arrependeu. Os erros são apenas erros, não são desperdícios.
E o desejo de encontrar outro caminha para se atirar permance intacto. Ele nunca se esquece: a vida pode terminar na próxima esquina.
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FREIRE, Rosano... em mais uma de suas contribuições.

domingo, 26 de setembro de 2010

Na busca dos benefícios cronométricos do quotidiano

Desordem reina! O pior de tudo, dentre as piores coisas, é que não lhe faltava tempo algum para fazer todas as coisas que no momento pudesse desejar. Entretanto, atravessara um período interno de defenestrações, desmaterializações e renovação vital. No entanto, encontrava-se completamente desorganizado em meio a tudo isso. Dispunha do tempo suficiente, mas não queria, no fundo, encontrar forças para conseguir a disciplina de que precisava para sua organização, para sua maximização dos benefícios cronométricos do quotidiano. Queria o presentismo dionisíaco, queria-o mais um pouco. Distanciava-se cada vez mais de seu tão amado ascetismo intramundano, pilar de sua personalidade. E o tempo, vez por outra, continuava a passar.

Para ouvir:
Time, Pink Floyd.

sábado, 18 de setembro de 2010

O que é um manifesto?


Simples questão. Sério problema.

O que é um manifesto de um mero idiota? 

A tarefa de me apontares um idiota, hoje em dia, não me parece esbanjar toda essa necessidade. É sádica, talvez. Podemos, conjuntamente, refletir sobre o problema, se é que isto constitui em si um problema a ser pensado. Todavia, enfim, no intuito de nada descartar e de pensar que o tudo e o nada ao mesmo tempo podem nos prover algo, deve haver alguém que concorde em se questionar sobre o manifesto aqui, hoje. Duas questões, em particular, me perturbam. O que manifestar e contra o que? Contra quem? É de natureza simples, reconheço, mas certamente não me convence que pode ser algo que advenha de um tema sutil. Não, por favor, não me venha com essa! Não há sutileza em, por segundos, perceber-se acorrentado, ironizado, ridicularizado, ao mesmo tempo em que se é liberto, compreendido, operacionalizado. Sem sarcasmos. Sem ressalvas.

Muito do que penso converge para o que me foge. Muito do que me foge, no entanto, às vezes retorna. Se retorna, o faz com propósito, com compromisso, embora me amedronte, pois o que é propósito pode nada propor além de uns dez centavos de iluminação, mera fugacidade diante de um cotidiano que mais parece a eternidade. Mas, creio não ser meu interior que o perturbe, que o amedronte. Será o exterior, então? Assim, eu tento proteger o que às vezes me retorna. Dou-lhe forma, torno-o passível de conteúdo, interpretação, crítica, amor e rejeição.

O manifesto de um mero idiota é, antes de qualquer coisa, aquele manifestar-se que não mais pode se concretizar enquanto tal. É o manifesto que existe onde não há possibilidade de ser manifesto. É o vivo exemplo de algo que perdeu seu sentido num espectro de sentidos finitos, históricos. Sentidos dentro dos quais própria dimensão de infinitude não é mais do que uma simples faceta generosa, por vezes, ocultista. Inibidora do real. O manifesto de um idiota é aquele que perdeu seu próprio sentido na História. Sua força motriz, sua vivacidade diante das múltiplas instituições frente ao que rebelar-se se encontram esfaceladas frente ao cotidiano dos tempos. É o que se esgota antes mesmo de ser pré-fabricado. É o que é cantado, muito antes de ser composto. É o que é escrito, pensado, falado, sentido, muito antes de serem, por alguém, descrito em verbetes, mentalmente esquematizado, sentido no calor carnal, verbalizado num simples e corriqueiro "bem dizer".

É o esgotamento da própria vez na medida em que todos os sentidos são sentidos, no tempo em que todos os sentidos são possíveis.

É o que se foi, mesmo antes de chegar, ficar e ter a chance de me deixar.
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VIEIRA CAMPOS, F. H. Reflexões pós-conversa de mesa de bar II.

Pós-modernidade


A nos atormentar, nada mais do que uma pequena palavra, um pequeno termo, um gesto singelo. Aprumava nossa direção, nos empurrava à frente. E íamos, íamos, sim, nós íamos. Mas o chão, o caminho sobre qual andávamos, estava demasiadamente encerado. O tempo e espaço eram escorregadios e, quanto mais caminhávamos para o fim, mais nos encontrávamos no começo.

Os atalhos não existiam, as placas também não... Nada! Nada como andar sem direção. E mais uma vez voltei ao começo. E ao começo, ao começo, ao começo. Num eterno movimento pendular. E voltando ao começo, mais uma vez chegando a ele... Destruí-o para poder me libertar.

Com a borracha à mão, apaguei delicadamente a covarde palavra.

E andei em todas as direções e caminhos de outrora, mas agora sabendo para onde estava indo.
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FREIRE, Rosano. Reflexões pós-conversa de mesa de bar.

sábado, 21 de agosto de 2010

¿Qué tal fumarmos un cigarillo de marijuana?


Henrifrank diz:

¿Qué tal fumarmos un cigarillo de marijuana?
VicinhoooO diz:
kkkkkkkkkkkkkkkkkk
trabalho com isso naum
Henrifrank diz:
Más qué peña.
VicinhoooO diz:
i'm sorry
bOy
rsrs
Henrifrank diz:
kkk
Pensei que fuestes un lombrero. Pero, enganado estoy.
VicinhoooO diz:
no i'm not LoMBRA, i'm very crazy a long time!!
son' need Maryjane
rsrs
don't**
Henrifrank diz:
Si, seio..
Pues, yo soi mui loco. Y assí miesmo, preciso de marihuana.
VicinhoooO diz:
kkkkkkkkkkkkkkk
i' nedd woman, diferrent welli
kkkkkkkkkkkk
Henrifrank diz:
Tu tienes toda la pinta de lombrero.
Ah, I know.
"Welli" needs a mondrongo.
VicinhoooO diz:
i have naipe but i'm gogo boY
kkkkkkkk
Henrifrank diz:
kkk
VicinhoooO diz:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Henrifrank diz:
uhauhua
auhaua
I have naipe??! uhuHAuhAUhUAhuHAuHAuA kkk
VicinhoooO diz:
you have naipe mondrongo
hummmmmmmm
kkkkkkkkkk
Henrifrank diz:
No, I have not this kind of naipe.

domingo, 15 de agosto de 2010

O Estrangeiro, por Charles Baudelaire.

A quem mais amas, responde, homem enigmático: a teu pai, tua mãe, tua irmã ou teu irmão?
- Não tenho pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.
- Teus amigos?
- Eis uma palavra cujo sentido, para mim, até hoje permanece obscuro.
- Tua pátria?
- Ignoro em que latitude está situada.
- A beleza?
- Gostaria de amá-la, deusa e imortal.
- O ouro?
- Detesto como detestais a Deus.
- Então! a que é que tu amas, excêntrico estrangeiro?
- Amo as nuvens...as nuvens que passam...longe...lá muito longe...as maravilhosas nuvens!

BAUDELAIRE, Charles. L'Étranger.

O manifesto que não cala.

Após um longo período de inactividade, eis que regressa Le Manifeste ao âmbito do virtual. . Evidentemente que com algumas modificações, aquele que outrora manifestara ainda é, essencialmente, aquele que vos manifesta no presente momento.

A tradição moderna é a tradição do que sempre é novo. Dessa forma, uma civilização dita moderna está sempre orientada em função de um tempo futuro que, de maneira secular ou teológica, tende a ser caracterizado por um projeto, seja ele societário, individual etc. Inconscientemente, a visão de mundo de um indivíduo moderno se projeta para o futuro, vivendo no presente apenas detalhes efêmeros do que pode vir a ser um dia a realização dos tais projetos. Na indecisão intelectual ou na imprecisão cognitiva de sabermos em que tempo histórico agora estamos, isto é, se não já superamos até a própria História, o tempo presente é tempo do mais efêmero ainda. Acho que não passei nem dois meses ausente do blog, todavia, o blog percorreu anos de ausência na internet e em mim. É como se para cada dia em que eu estive fora, novos eventos surgissem na teia de relações que tecem o tecido virtual. Cada vez mais veloz, cada vez mais fazendo esquecer o dia que passou. Esquecendo assim, não só o dia, mas também as horas, os minutos. Esquecendo quase tudo que, num dado espaço de tempo, foi vivido, pensado, etc.

Conforme as já velhas palavras do filósofo alemão Karl Heinrich Marx (1818 - 1883), "tudo o que é sólido se desmacha no ar". O que é do gênero humano é historicamente formado, construído então pela ação dos próprios homens. Portanto, tudo o que foi construído pode ser facilmente desconstruído através de uma arqueologia dos processos históricos, além de claro, do poder de agência dos grupos humanos e dos indivíduos reflexivamente conscientes de suas implicações práticas. No período em que estamos vivendo, pergunto-vos, o que de facto se torna sólido a ponto de ser passível de um dia desmanchar-se no ar?

M. Berman, onde está o sólido? Estou há tempos esperando por ele para poder fazê-lo ruir e suas cinzas jogar pelo ar. Porém, ele não chega. Ele não vem. Pergunto-me se ainda há a possibilidade deste sólido existir no mundo das efemeridades presentes, terrenas, imateriais, sentimentais, culturais. Teria sido a própria modernidade sólida forjada ela mesma em cima de uns dois ou três elementos efêmeros e que agora adquirimos maior consciência para apontá-los?

Espero que seja exageiro meu. Antes, porém, permita-me dizer que estou de volta. O manifesto dos idiotas já pode ter sido esquecido, ou quem sabe nunca chegou a ser lembrado. Em tempos onde tudo passa, onde não há essência, minha busca é de certo verdadeira?

VIEIRA CAMPOS, F. H.
(atarefado, mas ainda com energia - ou distração - para o manifesto)


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Tentativa. É fácil?

"Defenestrei tristezas e desilusões" (Iris, via orkut).

Apenas gostei da frase. Imagino que não tenha sido fácil.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sob diversos efeitos, enquanto a música tocava

Junho, 13.

(alguém pega uma caneta e um papel)

T.P. neste momento se prepara para tocar algo em seu violão para aqueles que, enquanto proferem temas grotescos e até mesmo inverídicos, lhes observam dançando discretamente. Ela desistiu da música com a mesma rapidez que tocou o braço do instrumento, o que me fez duvidar de suas intenções primeiras. Desistiu de tocar algo para seu seleto público, porém intimamente algo a tocava. Até a porta bater ela ouviu tocar. Não era ninguém, por enquanto.
Seu quarto estava diferente desde a última visita que havia feito ali. Seu quarto agora guarda algo que tornou-se passageiro: sua identidade. As malas, o espaço, a não-cama. O estrangeiro.

(música romântica e brega; música que não prestei atenção; Vento no Litoral)

Em meio a discussões econômicas sobre o nosso negócio, lembranças musicais: quais?
I hope you don’t mind what I’ve put down in words.” (Elton John)

W.: “Sabe o que é quando…?”.
Forró estilizado romântico, segundo W., o cotidiano.

F: “Deixa aí, deixa aí!”.
(alguém o percebeu num momento reflexivo)
T.P.: “Gostou, F.?”

Não se ouviu resposta. A resposta ainda não existia nem para ele.

W.: “Não tenho saliva, procuro saliva”.
W. (cantando): “Sou saboeiraaaaa, sou saboeiraaaaa!!”
T.P., B., F.: (risos)

01:11 - One minute left to someone think about me.

F. tem bons pensamentos ao som de um profundo e reflexivo blues.

T.P.: “Mas, é que cada música desperta uma sensação. Cada música te proporciona uma experiência diferente.”
F.: “Eu queria experimentar um reggae agora...”
W.: “Sou Rita Saimon, agora!”

No início, pensou F. em fechar a porta. Num cochilo de ego, cometou o ato falho e a porta, então, permaneceu aberta. Apenas por isso, durante a noite várias pessoas os visitaram. Suas visitas não eram visíveis para todos. Cada um havia convidado um certo número de pessoas e, em algum momento, todos estavam ali com eles. Pensados, verbalizados, imaginados, desenhados, materializados. Discutiam e eram discutidos. Os visitantes chegavam, acendiam um cigarro e conversavam. Alguns estavam mais felizes do que outros, mas todos dependiam dos quatro que ali estavam para expressarem algo mais. Sentavam e esperavam, observavam. E depois, naturalmente partiam, pois a porta ainda permanecia aberta.

As músicas proporcionam sensações; algumas canções são rejeitadas; algumas sensações também o são.

T.P. (apropriando-se de Cazuza): “O amor é uma mentira que a gente inventa para se distrair. E quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu.”
W. (conclui): “Para amar tem que estar muito dooooido!”

Under The Bridge”, Red Hot Chili Peppers: F. se exalta ao lembrar de quando era mais novo e não tinha preocupações.

T.P.: “Eu fico por aqui com João Bosco.”

W.: “...e como é? E o que eu disse? Satanás!? Meeau!”
B.: “auhauhauahua...vocês lembram? W. no meio do corredor: Satanáááás!?!?!?!” (risos)

B. parecia uma cachorra sorrindo. Ela estava em perfeito estado de equilíbrio, emanando sua paz para os demais. Naquele instante, era o cérebro de todos.

Nobody knows it but you’ve got a secret smile and you use it only for me.” (Semisonic)
Reflexões de F. verbalmente traduzidas por T.P.

Alguém: “Shakira é uma cantora tão...”
W.: “Faz a Shakira!!”
F.: (risos)

Ideologia do Manifesto dos Idiotas: “me arrependerei disso amanhã?” (F.)

Triste estou eu de viver uma vida feliz.” (Móveis Coloniais de Acaju).

Particularmente carinhosa, B. aproxima-se de F. ao som de uma música clássica que o remeteu a temas vampirísticos.

B.: “Eu queria ser uma vampira.”

02:22 - Time passes. Novamente, alguém quase pensando em mim.

(alguém larga caneta e papel)

Muita coisa faz sentido.


domingo, 30 de maio de 2010

Philosophia Idiótes: para aquém do conhecimento

Achou de pensar que estava sendo vítima do oculto. Que seria então? Com alguma certeza, mas sobretudo com dúvida, pensou não ter total controle de sua vida vis-à-vis às questões que afligiam sua mente. Para além de uma explicação filosófica, psicanalítica, sociológica ou política - esses conhecimentos de que não dispunha -, pensou muito baixo, numa dimensão da vida onde a sua própria ação puramente prática, sensível, quotidiana não pudera se realizar em sua completude. Ora, o lusco-fusco da existência parecia que tomava parte dos seus pensamentos. Aos poucos, a conta-gotas, pausadamente. Repetidamente, a cada dia cuja mente trabalhava naquele assunto. O dia de seu intelecto fazia o movimento contrário da História, da civilização, e parecia voltar a um período longínquo, de explicações modestas e supersticiosas a cerca do mundo, a cerca da vida, da natureza e de todas as outras dimensões que esqueceram de ser lembradas. Explicações simbióticas nas quais homem e natureza, sujeito e objeto não haviam sido postos em locais distintos.


Muito jovem, tinha preguiça e tinha em seu corpo exaustão. Não costumava passar muito tempo pensando, mas percebeu que agora isso se fazia necessário. E muito. E muito. E infinitas vezes. Tantas quantas sua mente em repouso pudesse suportar. Tantas quantas seu corpo permitisse, até que conseguisse desfalecer em sono quase profundo, até a manhã do dia seguinte. Até o próximo ciclo duvidoso que era seu dia. A dúvida não lhe parecia uma solução, a princípio. Buscava certezas, constatações. Não era cientista, nem nada. Era apenas jovem e não as encontrava.


Convenceu-se de que era na dúvida que estava o princípio do conhecimento. Na negaçãoconstante estaria sua postura intelectual dali em diante.

domingo, 23 de maio de 2010

Sobre o problema de ser complicado

O dia foi de uma intensa procura. Em todos, e ao mesmo tempo em lugar nenhum, havia a possibilidade de estar o que diabos tanto ele procurava. Na sua procura, o que o orientava era algo de certo indefinido, talvez do passado, não se sabe. Do futuro, pouco provável. No o presente, não havia mais nada, apenas ele e sua procura, sua busca. Ou mesmo de algum tempo incognoscível para o humano, pois diante daquele desespero que calava, explicações das mais diversas poderiam percorrer suas ideias.

Nos tempos áureos, gostava de imaginar como seria sua vida num distante futuro imaginário. Costumava viver a contemplar os dias, as horas e os minutos. Os segundos também, por que não? Já que a vida para ele passava tão devagar. Quase tudo lhe era muito belo e causava prazer, sobretudo o admirar do tempo. Aquele tempo que custava caro em passar. Aqueles dois centímetros a mais que nele nunca apareciam. Aquela vontade de ser grande que nunca cessava. Sempre muito introspectivo, desde pequeno, buscava nos pares e na visão idílica que tinha das coisas do mundo a felicidade. De certo, não sabia de muita coisa. Não tinha noção de muita coisa. Muita coisa ainda estava para lhe acontecer. Estava? Bem, isso não o preocupava. As preocupações eram poucas e podiam ser resumidas em pequenas travessuras que havia feito e que agora estavam sujeitas à punições leves. Nada mais o preocupava.

Viveu muito tempo na expectativa, projetando no futuro algo incrível, surreal. O futuro chegara e o que ele trazia de novo, então? Vivia contemplando sua coleção do Nada. Via no nada, o tudo. E, no tudo, também via o nada. Sua mente fazia com que isso fosse perfeitamente capaz. Estava desejoso por algo, alguma coisa que ele nunca tivera. As possibilidades eram muitas, mas ao mesmo tempo esgotava-se o elemento fundamental: o inimaginável.Em seu projeto que julgava estar no cume de sua existência, havia subestimado sua própria capacidade do sentir. Havia preparado uma grande excursão que duraria longos anos de sua vida, mas para aquela ele havia esquecido o que de fato mostrou ser bastante substancial, elementar. No tempo em que vivia amargurado, irremediavelmente, vivia a procurar. Todavia, já estava cansado.

Pensou em ser criança, não era mais possível. Pensou em sonhar, lembrou que não conseguia dormir há dias. Pensou em sair, chovia. Pensou em chorar, não sabia a razão e desistiu. Pensou em pensar, parou e escreveu:

(...)
Que diabos tanto ele procura?
Os diabos que ele mesmo buscou sempre exorcizar.

Na chuva, ao som de Hope Leaves.

Recife é uma cidade quente. É a minha cidade. Embora no momento em que aqui estou a escrever este breve comentário faça chuva lá fora, bem cá permanece quente. Frieza aqui, só a interior. Ao som de “Damnation”, da banda sueca Opeth, e dispondo do meu gadget tecnológico cuja função é capturar sons do ambiente - o velho microfone -, sou capaz de perceber o som da chuva caindo a gotejadas no chão. A máquina percebe e me traz com a precisão e distância que necessito, fazendo com que o som da chuva se funda à melancolia da música. A máquina aqui está para transcender minha experiência sensorial, aproximando os sons, internalizando em mim o som da chuva e algum sentimento que eventualmente ela queira passar. Melhor, algum sentimento que eu queria nela perceber, pois ainda assim trata-se de uma simples chuva.



Embora meu corpo esteja quente, o som da chuva me parece frio. É algo que não posso descrever, mas que certamente não é a felicidade plena.


Singin’: There is a wound that’s always bleeding. There is a road I’m always walking. And I know you’ll never return to this place.”

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ironias


Que a ironia baudelairiana esteja sempre comigo. Ela está no meio de nós.
Salvo n'alguns momentos, que esteja também a visão anti-pastoral do mesmo.
Cristo pai, não quero me tornar um deles.

domingo, 16 de maio de 2010

Explicações são necessárias

Sem linearidade. Apenas agora lembro-me que devo (será que devo mesmo) explicar algumas motivações minhas para a criação desse blog. Sim, é mais um entre muitos que você pode encontrar por aí e certamente algo aqui não fará você ficar por muito tempo. Porém, caso fique, é bom que estejas ciente que buscarei postar besteiras importantes aqui. Importantes para mim podem até ser. Podem vir a ser para outros também, nada impede. Coisas do passado e do presente. Coisas nenhumas também estarão aqui. Notícias, bobagens, recomendações, não-recomendações, resenhas, comentários, bobagens, filmes, música, bobagens, crônicas, uma série de coisas. Deixo convosco minha gratidão pela vossa paciência. Graça & Paz.

Sobre o que de alguma forma é novo

Tratava-se, então, de algo cujo significado ele não podia explicar. Estava deitado, cansado, já era tarde e ao mesmo tempo lá estava ela a conversar com ele. Ela estava feliz, ciente do que podia fazer naquele momento: falar, falar, soprar, contar, cantar, falar. Para ela, tudo estava bem e embora já fosse madrugada, o céu estava claro como numa tarde qualquer. Tudo era novidade para ele, inclusive a bela visão da qual ele desfrutava naquele momento. Ele sabia muito bem o que se passava, mas de certo não imaginava que aquilo fosse possível. Ao lado, uma pequena divisória visivelmente separava sua cama da varanda pouco iluminada, porém bastante ventilada, onde lá estava ela ainda a contar com felicidade sobre a mediocridade alegre que, naquele momento, era a vida dos dois. Ela havia preparado uma surpresa, algo muito simples, mas que ele ainda não suspeitava. Tão simples que seu valor tornava-se inestimável, naquele momento trivial para todo o resto do mundo. Era um texto que ela havia escrito sobre ele, contando sobre a vida dele, falando quem ele era, o que ele precisava. Ela havia produzido conhecimento sobre ele. Mas, por quê? Nem isso saberia responder, mas gostava. Talvez a resposta não fosse necessária. Ela disse para ele não se preocupar e ler com calma que ela iria aguardar sentada numa velha cadeira de balanço, enquanto admirava o canto que vinha do movimento das árvores.

(...) ele acendeu o abajur, pegou os óculos que estavam próximos à cama, viu as horas no relógio, despreocupou-se. Não havia espaço para o tempo naquele ambiente. Eram páginas longas, escritas, rasuradas, grifadas, coloridas e personalizadas. Tinham marcas, mas, sobretudo, tinha o seu cheiro. Apenas ela poderia ter feito aquilo com tanta devoção. Era a única certeza dele naquele momento. Seu dever naquele instante era ler atenciosamente, degustando cada palavra, na tentativa de igualar-se a ela com a mesma dedicação que havia sido posta naqueles papéis. Ela, de facto, o conhecia bastante. Tudo estava ali. Sua vida estava naqueles papéis. Era como se ela possuísse em papéis e palavras toda a vida dele, desde sua infância até o momento em que se conheceram. Perto dela, ele era óbvio demais, pensou. A incompreensão disso tudo, essa sensação do sublime, o confortava.

Perto do fim dos escritos, ainda a ouvir a voz dela em simbiose com aquelas palavras das quais estava diante, percebeu que uma coisa havia mudado. Não era culpa de ambos, mas ao mesmo tempo também era. Algo não se completou. Mais uma vez ele desconhecia o que estava para acontecer. Ela estava lá. E aos poucos sua imagem tomava formas diluídas, como numa arte expressionista. Sua voz se distanciava. Ele infelizmente não conseguiu terminar de ler o texto que ela havia preparado com o mais sincero dos sentimentos. Ele culpava-se por isso.

Estava quente. A varanda desaparecera. Um descontentamento retornava. A porta estava fechada. Ele, enfim, acordara.




À guisa de introdução: "sobre o Manifesto Idiótes" (escrito originalmente em algum dia do ano de 2008) - Parte 2

O que é que é que eu vou criticar?

Não posso ser assim. O que mais poderei eu fazer, se o direito de criticar-te me foi negado? Impossível! O que pode de minha vida ser se assim não for? Ah, mas eu me eximo totalmente das bobagens que um “eu mesmo” de minutos atrás escreve e tem por hábito escrever. Aprendi que uma das maiores ocupações que um ser humano, na máxima de sua existência mesmo sem pensar sobre isso, tem é a crítica. Esse mundo ao contrário me confunde......que merda de texto é esse?

À guisa de introdução: "sobre o Manifesto Idiótes" (escrito originalmente em algum dia do ano de 2008)


Carta ao meu jovem Ego


Ó, vida ingrata que não reconhece meu valor. Valor este que, convenhamos, tenho até demais. Não pouparei louvores, neste “papel” para glorificar a minha obra pois sei que sentido algum nela há, de facto. Pouparei qualquer charme em dizer que sou inferior ou apenas mais um “escritor” de abobrinhas individualistas. Na verdade, minha pretensão é, com efeito, subjugar qualquer outro ser que venha até cá dizer-me que o que faço não tem valor, ou um valor muito singular. Falta, no mínimo, muito estudo e feijão-com-arroz a qualquer indivíduo com a intenção de atingir-me dessa maneira tão vã.

Venho aqui, contra a ingratidão terráquea, que insiste em não me reconhecer como um gênio (confesso que são poucos), pois o sou e de longe percebe-se, expressar que toda a ambigüidade de meu escrito é plausivelmente explicável e compreensível, numa palavra, é justificável, apenas pelo tamanho de minha relevância a esse mundo, ao plano humano e mortal que nós, seres imortais – sim, porque um gênio nunca morre -, somos.