domingo, 30 de maio de 2010

Philosophia Idiótes: para aquém do conhecimento

Achou de pensar que estava sendo vítima do oculto. Que seria então? Com alguma certeza, mas sobretudo com dúvida, pensou não ter total controle de sua vida vis-à-vis às questões que afligiam sua mente. Para além de uma explicação filosófica, psicanalítica, sociológica ou política - esses conhecimentos de que não dispunha -, pensou muito baixo, numa dimensão da vida onde a sua própria ação puramente prática, sensível, quotidiana não pudera se realizar em sua completude. Ora, o lusco-fusco da existência parecia que tomava parte dos seus pensamentos. Aos poucos, a conta-gotas, pausadamente. Repetidamente, a cada dia cuja mente trabalhava naquele assunto. O dia de seu intelecto fazia o movimento contrário da História, da civilização, e parecia voltar a um período longínquo, de explicações modestas e supersticiosas a cerca do mundo, a cerca da vida, da natureza e de todas as outras dimensões que esqueceram de ser lembradas. Explicações simbióticas nas quais homem e natureza, sujeito e objeto não haviam sido postos em locais distintos.


Muito jovem, tinha preguiça e tinha em seu corpo exaustão. Não costumava passar muito tempo pensando, mas percebeu que agora isso se fazia necessário. E muito. E muito. E infinitas vezes. Tantas quantas sua mente em repouso pudesse suportar. Tantas quantas seu corpo permitisse, até que conseguisse desfalecer em sono quase profundo, até a manhã do dia seguinte. Até o próximo ciclo duvidoso que era seu dia. A dúvida não lhe parecia uma solução, a princípio. Buscava certezas, constatações. Não era cientista, nem nada. Era apenas jovem e não as encontrava.


Convenceu-se de que era na dúvida que estava o princípio do conhecimento. Na negaçãoconstante estaria sua postura intelectual dali em diante.

domingo, 23 de maio de 2010

Sobre o problema de ser complicado

O dia foi de uma intensa procura. Em todos, e ao mesmo tempo em lugar nenhum, havia a possibilidade de estar o que diabos tanto ele procurava. Na sua procura, o que o orientava era algo de certo indefinido, talvez do passado, não se sabe. Do futuro, pouco provável. No o presente, não havia mais nada, apenas ele e sua procura, sua busca. Ou mesmo de algum tempo incognoscível para o humano, pois diante daquele desespero que calava, explicações das mais diversas poderiam percorrer suas ideias.

Nos tempos áureos, gostava de imaginar como seria sua vida num distante futuro imaginário. Costumava viver a contemplar os dias, as horas e os minutos. Os segundos também, por que não? Já que a vida para ele passava tão devagar. Quase tudo lhe era muito belo e causava prazer, sobretudo o admirar do tempo. Aquele tempo que custava caro em passar. Aqueles dois centímetros a mais que nele nunca apareciam. Aquela vontade de ser grande que nunca cessava. Sempre muito introspectivo, desde pequeno, buscava nos pares e na visão idílica que tinha das coisas do mundo a felicidade. De certo, não sabia de muita coisa. Não tinha noção de muita coisa. Muita coisa ainda estava para lhe acontecer. Estava? Bem, isso não o preocupava. As preocupações eram poucas e podiam ser resumidas em pequenas travessuras que havia feito e que agora estavam sujeitas à punições leves. Nada mais o preocupava.

Viveu muito tempo na expectativa, projetando no futuro algo incrível, surreal. O futuro chegara e o que ele trazia de novo, então? Vivia contemplando sua coleção do Nada. Via no nada, o tudo. E, no tudo, também via o nada. Sua mente fazia com que isso fosse perfeitamente capaz. Estava desejoso por algo, alguma coisa que ele nunca tivera. As possibilidades eram muitas, mas ao mesmo tempo esgotava-se o elemento fundamental: o inimaginável.Em seu projeto que julgava estar no cume de sua existência, havia subestimado sua própria capacidade do sentir. Havia preparado uma grande excursão que duraria longos anos de sua vida, mas para aquela ele havia esquecido o que de fato mostrou ser bastante substancial, elementar. No tempo em que vivia amargurado, irremediavelmente, vivia a procurar. Todavia, já estava cansado.

Pensou em ser criança, não era mais possível. Pensou em sonhar, lembrou que não conseguia dormir há dias. Pensou em sair, chovia. Pensou em chorar, não sabia a razão e desistiu. Pensou em pensar, parou e escreveu:

(...)
Que diabos tanto ele procura?
Os diabos que ele mesmo buscou sempre exorcizar.

Na chuva, ao som de Hope Leaves.

Recife é uma cidade quente. É a minha cidade. Embora no momento em que aqui estou a escrever este breve comentário faça chuva lá fora, bem cá permanece quente. Frieza aqui, só a interior. Ao som de “Damnation”, da banda sueca Opeth, e dispondo do meu gadget tecnológico cuja função é capturar sons do ambiente - o velho microfone -, sou capaz de perceber o som da chuva caindo a gotejadas no chão. A máquina percebe e me traz com a precisão e distância que necessito, fazendo com que o som da chuva se funda à melancolia da música. A máquina aqui está para transcender minha experiência sensorial, aproximando os sons, internalizando em mim o som da chuva e algum sentimento que eventualmente ela queira passar. Melhor, algum sentimento que eu queria nela perceber, pois ainda assim trata-se de uma simples chuva.



Embora meu corpo esteja quente, o som da chuva me parece frio. É algo que não posso descrever, mas que certamente não é a felicidade plena.


Singin’: There is a wound that’s always bleeding. There is a road I’m always walking. And I know you’ll never return to this place.”

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ironias


Que a ironia baudelairiana esteja sempre comigo. Ela está no meio de nós.
Salvo n'alguns momentos, que esteja também a visão anti-pastoral do mesmo.
Cristo pai, não quero me tornar um deles.

domingo, 16 de maio de 2010

Explicações são necessárias

Sem linearidade. Apenas agora lembro-me que devo (será que devo mesmo) explicar algumas motivações minhas para a criação desse blog. Sim, é mais um entre muitos que você pode encontrar por aí e certamente algo aqui não fará você ficar por muito tempo. Porém, caso fique, é bom que estejas ciente que buscarei postar besteiras importantes aqui. Importantes para mim podem até ser. Podem vir a ser para outros também, nada impede. Coisas do passado e do presente. Coisas nenhumas também estarão aqui. Notícias, bobagens, recomendações, não-recomendações, resenhas, comentários, bobagens, filmes, música, bobagens, crônicas, uma série de coisas. Deixo convosco minha gratidão pela vossa paciência. Graça & Paz.

Sobre o que de alguma forma é novo

Tratava-se, então, de algo cujo significado ele não podia explicar. Estava deitado, cansado, já era tarde e ao mesmo tempo lá estava ela a conversar com ele. Ela estava feliz, ciente do que podia fazer naquele momento: falar, falar, soprar, contar, cantar, falar. Para ela, tudo estava bem e embora já fosse madrugada, o céu estava claro como numa tarde qualquer. Tudo era novidade para ele, inclusive a bela visão da qual ele desfrutava naquele momento. Ele sabia muito bem o que se passava, mas de certo não imaginava que aquilo fosse possível. Ao lado, uma pequena divisória visivelmente separava sua cama da varanda pouco iluminada, porém bastante ventilada, onde lá estava ela ainda a contar com felicidade sobre a mediocridade alegre que, naquele momento, era a vida dos dois. Ela havia preparado uma surpresa, algo muito simples, mas que ele ainda não suspeitava. Tão simples que seu valor tornava-se inestimável, naquele momento trivial para todo o resto do mundo. Era um texto que ela havia escrito sobre ele, contando sobre a vida dele, falando quem ele era, o que ele precisava. Ela havia produzido conhecimento sobre ele. Mas, por quê? Nem isso saberia responder, mas gostava. Talvez a resposta não fosse necessária. Ela disse para ele não se preocupar e ler com calma que ela iria aguardar sentada numa velha cadeira de balanço, enquanto admirava o canto que vinha do movimento das árvores.

(...) ele acendeu o abajur, pegou os óculos que estavam próximos à cama, viu as horas no relógio, despreocupou-se. Não havia espaço para o tempo naquele ambiente. Eram páginas longas, escritas, rasuradas, grifadas, coloridas e personalizadas. Tinham marcas, mas, sobretudo, tinha o seu cheiro. Apenas ela poderia ter feito aquilo com tanta devoção. Era a única certeza dele naquele momento. Seu dever naquele instante era ler atenciosamente, degustando cada palavra, na tentativa de igualar-se a ela com a mesma dedicação que havia sido posta naqueles papéis. Ela, de facto, o conhecia bastante. Tudo estava ali. Sua vida estava naqueles papéis. Era como se ela possuísse em papéis e palavras toda a vida dele, desde sua infância até o momento em que se conheceram. Perto dela, ele era óbvio demais, pensou. A incompreensão disso tudo, essa sensação do sublime, o confortava.

Perto do fim dos escritos, ainda a ouvir a voz dela em simbiose com aquelas palavras das quais estava diante, percebeu que uma coisa havia mudado. Não era culpa de ambos, mas ao mesmo tempo também era. Algo não se completou. Mais uma vez ele desconhecia o que estava para acontecer. Ela estava lá. E aos poucos sua imagem tomava formas diluídas, como numa arte expressionista. Sua voz se distanciava. Ele infelizmente não conseguiu terminar de ler o texto que ela havia preparado com o mais sincero dos sentimentos. Ele culpava-se por isso.

Estava quente. A varanda desaparecera. Um descontentamento retornava. A porta estava fechada. Ele, enfim, acordara.




À guisa de introdução: "sobre o Manifesto Idiótes" (escrito originalmente em algum dia do ano de 2008) - Parte 2

O que é que é que eu vou criticar?

Não posso ser assim. O que mais poderei eu fazer, se o direito de criticar-te me foi negado? Impossível! O que pode de minha vida ser se assim não for? Ah, mas eu me eximo totalmente das bobagens que um “eu mesmo” de minutos atrás escreve e tem por hábito escrever. Aprendi que uma das maiores ocupações que um ser humano, na máxima de sua existência mesmo sem pensar sobre isso, tem é a crítica. Esse mundo ao contrário me confunde......que merda de texto é esse?

À guisa de introdução: "sobre o Manifesto Idiótes" (escrito originalmente em algum dia do ano de 2008)


Carta ao meu jovem Ego


Ó, vida ingrata que não reconhece meu valor. Valor este que, convenhamos, tenho até demais. Não pouparei louvores, neste “papel” para glorificar a minha obra pois sei que sentido algum nela há, de facto. Pouparei qualquer charme em dizer que sou inferior ou apenas mais um “escritor” de abobrinhas individualistas. Na verdade, minha pretensão é, com efeito, subjugar qualquer outro ser que venha até cá dizer-me que o que faço não tem valor, ou um valor muito singular. Falta, no mínimo, muito estudo e feijão-com-arroz a qualquer indivíduo com a intenção de atingir-me dessa maneira tão vã.

Venho aqui, contra a ingratidão terráquea, que insiste em não me reconhecer como um gênio (confesso que são poucos), pois o sou e de longe percebe-se, expressar que toda a ambigüidade de meu escrito é plausivelmente explicável e compreensível, numa palavra, é justificável, apenas pelo tamanho de minha relevância a esse mundo, ao plano humano e mortal que nós, seres imortais – sim, porque um gênio nunca morre -, somos.